Dia desses estava eu em um hiper-mercado daqueles que se encontra de tudo (coisa que eu adoro) a passear sem compromisso. Passava pela ala tecnológica... É quando me deparo com uma televisão LCD gigante (não chegava a ser gigantesca mas era o triplo das que tenho em casa) porém algo além do tamanho me chamou a atenção. Eu tentava olhar para a TV mas minha vista embaralhava. Olhei uma, duas, três vezes e deu na mesma. Pensei que meu astigmatismo havia piorado consideravelmente. Fiquei curiosa, me aproximei. Foi aí que pude ver escrito que era um exemplar de TV digital. O lugar estava montado como a sala da minha, da sua, da nossa casa.
Passava na tela uma uma imagem em três dimensões, o logotipo do fabricante. Resmunguei que assim não era interessante, a imagem embaralhada me dava enjôos e pra mim não servia. No entanto ponderei. Falei que gostaria de ver uma cena, uma novela e pessoas pois assim poderia notar alguma diferença, se é que fosse algo que saltasse aos olhos. Segundos após exprimir tal desejo surge na tela o céu. No céu surgiram balões coloridos. Assim eu me arrepiei. Meus olhos brilharam e focaram com força cada pedacinho de LCD. Que coisa magnífica! Me deslumbrei. Não conseguia acreditar no que via. A imagem era belíssima! Parecia me transportar para dentro da imensidão de cores vivas e dançantes, me seduziam em sua nitidez.
Nunca fui louca adepta à tecnologia. Sou simplesmente uma pessoa não alienada, que faz uso do que a modernidade oferece de bom e prático. Todas as mudanças aconteceram naturalmente, como deve ter sido para as pessoas da minha idade. Primeiro veio o computador. Era o máximo jogar Mortal Kombat com o Joystick pela telinha da máquina, no Windows 11.5 se não estou enganada. Depois veio a Internet. Foi muito interessante a maneira como o mundo se abriu e as coisas começaram a fazer mais sentido. Eu morava em uma pequena cidade na qual a televisão era na época o que imperava como propagador de informação (provavelmente hoje não seja diferente). Eu tinha acesso apenas ao que estava em voga. Bom, a dita rapidamente se tornou parte da rotina, mesmo com anos de conexão discada. Nesse meio tempo o celular surgiu. Era status possuir um aparelhinho, uma número particular. Assim veio o MP3, e o aparelho para tocá-lo. A fotografia digital. E para mim a tecnologia parou por aí.
Penso que daí em diante só se reformulou, reinventou, recriou o que já haviam feito. Tudo isso foi muito naturalmente absorvido pela cultura. E como vim sofrendo essas mudanças ao longo da vida, desde pequena, nada foi surpreendente (devo confessar que o mais-mais foi o MP3). E sempre que me perguntavam se imaginava que algo novo pudesse ser criado eu duvidava. Sem otimismo algum. Tenho minhas teorias e sou muito radicalmente defensora delas, quem me conhece bem sabe e as conhece. Tenho certeza de que o homem nunca foi à lua e que as baratas dominarão a humanidade, mas isso é prosa pra outra hora...
Percebi nesse dia que pude vivenciar a surpresa tecnológica. Havia um sofá e uma mulher sentada nele. Por pouco não pedi à ela que me deixasse sentar e apreciar o "portal" sozinha. Se nossas televisões precárias já são um perigo, imaginei cada ser humano com uma dessas. Não haveria quem quisesse sair de casa. Ou talvez não seria preciso. Com as paredes em LCD digital, poderíamos fazer ligações on-line por salas interativas... Bom, acho que a única vantagem seria ter a ilusão de chegar pertinho do Sawyer... Não, não assisto a série, é apenas esse homem que como qualquer inovação, salta aos olhos.
E ao me deparar com aquela imagem na gigante televisão LCD a minha vida mudou. Eu olhava e parecia ter tomado o ácido que nunca tomei. Era uma viajem alucinogéna, como se eu estivesse naquele céu a voar com os balões multicores. Me surpreendi. Entendi que alguma coisa acontece no mundo. A magnitude e a nocividade do aparelho movimentaram uma sensação de esperança e condenação. A esperança de que algo completamente inimaginável ainda possa ser inventado, e o temor de que as televisões, num futuro próximo, nos engula.
Quem sabe o famigerado tele-transportador esteja mais próximo do que imaginamos...
quarta-feira, 25 de junho de 2008
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George Orwell que o diga!
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