Sou uma pessoa chata. Não sei se é bom ou ruim querer sempre estar comprometida com a verdade. É fato para mim que a verdade é algo simples, sereno. Sobre a verdade não há segredo. Ao menos pra mim isso é conceito cru, puro. Sobre a verdade basta sentir, viver. A verdade é uma só: é aquela que nos guia ao melhor caminho, não o certo ou errado, mas o melhor.
Porém isso trás complicações, obviamente. A antagonista do tema, a grande vilã: a mentira.
Ah! A mentira! Essa sim é complexa... Começo por dizer a frase mais clichê à qual poderia recorrer:
-Se dissesse que não minto estaria mentindo.
A frase é sim banal. A banalidade dessa frase indica algo curioso sobre a mentira e que a diverge (cômicamente) da verdade. A verdade é única, a mentira é multifacetada. Existem vários graus de mentira. Contamos uma mentirinha, mentira ou mentirão e assim as relacionamos com a culpa. Se a culpa é pequenina, é apenas uma mentirinha; culpa média, mentira; extremamente culpados, mentirão. Entendo que a mentira seja sempre egoísta. Não há mentira para proteger o outro. Há mentira apenas para se proteger. Quando algo é para proteger o outro entendo como omissão. Pode até ser um modo sutil de me safar da culpa dizer isso.
Ocorre que ao contrário da verdade, que porta a coragem e a bravura de não temer perder qualquer que seja o objeto, a mentira é carregada do que é vil, pois se teme perder. A mentira habita e domina o covarde, aquele que teme o outro em qualquer forma e que teme principalmente, fundamentalmente a verdade que há dentro de si.
A minha relação com a mentira é dúbia: sei que pela minha condição humana estou também sujeita a mentir, e por assim dizer, em ocasiões eu minto. E ao mesmo tempo repugno a mentira. No entanto parto do príncipio de que se ter consciencia de que a mentira pode surgir no decorrer da vida não me torna mentirosa. Meu compromisso é com a verdade sobre a vida, sempre buscá-la. Entendo que na vida nada se constrói com base na mentira. A mentira é feita de matéria tosca, pobre... Isso não é estrutura, nada sustenta.
Certa vez ouvi uma frase curiosa, dizia que as vezes é preciso contar algumas mentiras para se dizer uma verdade... Certamente discordo. Uma mentira só, ou a soma de mentiras jamais resultará em verdade. É uma equação impossível. De dentro de uma mentira não sai verdades. Entretanto posso entender que o inverso desta afirmação é compreensível. Acredito que as vezes é preciso dizer umas verdades para se contar uma mentira. Quando se conta uma verdade, e outra, e outra, o sentido é tão puro e limpo que se perde o controle. As verdades quando ditas podem resultar em mentira. Creio que essa é uma das formas em que eu minto. Falo a verdade uma, duas vezes, e por consequência já me peguei por perceber que no fim das contas o resultado já não era mais o programado. Já não era mais verdadeiramento o que queria dizer.
Posso dizer que a verdade e a mentira possuem isso em comum: a falta de controle. Mas quando se conta a verdade pode-se ter na carne a certeza de que o compromisso com a nobreza foi mantido. O que é nobre é a determinação de caráter. Caráter é o distintivo do ser, é aquilo que nos apresenta, é o que nos mantém... Por isso o que nos mantém deve ser feito de material nobre. Senão a casa cai...
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