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Terminei de jantar e sentei-me em frente ao computador. 19:40. Calculei que vinte minutos seria o suficiente para que eu pudesse ir ao banho. Isso em razão de que, como uma mulher vaidosa, preciso dessas duas horas para estar pronta às dez. Vinte minutos procuro o que fazer. Tudo bem, provavelmente homens virarão os olhos com desdém, ou talvez com o simples comentário "mulheres"... Mas sou da seguinte opinião: homens que gostam de mulheres rápidas gostam de mulheres feias...
Nós, as vaidosas, precisamos de tempo... Em realidade, quando sabemos que vamos sair, desde o primeiro segundo começamos a pensar no que vestir. Examinamos todo o nosso guarda-roupa mentalmente, fazendo diferentes combinações de peças, maquiagem e assessórios. E pouco importa quanto tempo falta para esse momento em que iremos sair. Pode faltar até mesmo meses. Pra exemplificar esse questão, basta que pensem no vestido de noiva, que a mulher já idealiza quando criança, sem fazer a mínima idéia até mesmo se irá se casar. É apenas o sonho de ser importante, de ser uma mulher importante, A Mulher.
Então, na noite de sair, pensamos também qual perfume será o melhor. O mais sensual, extrovertido, misterioso... O penteado... Tudo depende das intenções, das fantasias. Por isso quando um homem diz que as mulheres se arrumam para as outras, estão errados. Nós, as vaidosas, queremos resplandecer no olhar desse homem que nos fascina. Queremos que sintam orgulho de nos ter ao lado. Queremos também que eles se sintam importantes...
Bom, dizia que aguardava o tempo passar (os vinte minutos) para dar inicio a maratona deliciosa de produzir-me. Tomar um belo banho com o sabonete que deixa a minha pele mais macia... Lavar meus longos cabelos... Depois secá-los e sentir o aroma que dele exala. Olhar no espelho, ver a tela que é o meu rosto e brincar de artista. Pintar-me com as mãos de Pintor. Tentar criar harmonia no que de fato é desarmônico por natureza, natureza humana. Quando pequena eu já me maquiava. Era mágico. Me pintava e me via linda com as tonalidades de vermelho espalhadas pela face. Me sentia artista. Não era chegada a brincar de bonecas. As bonecas pareciam sempre dormir. E eu era apaixonada por coisas vivas, um universo imenso. No interior, eu brincava descalça pelas ruas e vestida de fantasias... Tinha sacolas cheias de panos, roupas, e fantasias... Saía pela cidade assim... Me sentia uma bruxa. Sempre gostei de ser a bruxa. Aquela que tinha o poder. Raramente as fadas. Sempre a bruxa. Todo dia era essa mesma brincadeira, com diferentes fantasias. Brincava no jardim, no pomar, na praça, conversava com as árvores telepaticamente. Eu vivia na floresta. E lá na floresta era tudo encantado.
Houve um momento em que tudo isso se esvaiu. Até meu espelho tornou-se vazio. Joguei a maquiagem fora. As transformações me fizeram bruta. Mas isso já é também passado, e um tempo obscuro... Agora estou eu aqui, olhando o relógio para meu ritual particular. E gosto de me fazer escutando música obscura. Música poderosa. E nessa espera lembrei-me de algo que me fez rir de leveza... Lembrei dos dias de piscina. Eu almoçava e assim queria logo voltar a nadar. Peixe. Mas minha mãe dizia "Não pode agora! Precisa esperar pelo menos 20 minutos!" Esperar, pois caso contrário seriam graves as consequêcias... Era a tal da congestão... Não havia mesmo saída, eu morria ali esperando... Ou morreria de fato, nadando...
Isso era pra mim o inferno! Como esperar?! A água ali, azul, tão molhada, e eu fora dela! Não era justo. Vale ressaltar que isso não ocorria sempre, pois na maioria das vezes eu nada comia, pois não queria perder tempo comendo. Eu queria mesmo evitar esse intervalo de meia hora que era tão torturante! As outras crianças lá dentro e eu perdida, sem rumo, sem diversão. Vinte minutos, meia hora não tinha fim. Era quase obsessão. Não havia criatividade para pensar em outra coisa. A minha criação estava lá dentro e assim o tempo era infinito. Hoveram vezes em que ousei desafiar... Quando me lembro disso, penso em como esses mesmos minutos hoje passam num piscar de olhos. Encontro tanta coisa pra pensar em meia hora que acabo por ultrapassá-la. O Corpo mudou; internalizei o universo.
Eu já era naquele tempo adepta aos rituais. Intensamente ligada às coisas que me apaixonam. Impregnada de imensidão. Cheia de mergulhos. No meu mundo de fantasia e azul eu já sabia que não poderia mudar. Que tudo em relação à vida é uma floresta encantada, uma piscina imensamente azul... E elas não podem esperar...
Bom...Aqui vai o comentário de um homem que adora as mulheres bonitas (não as rápidas).
ResponderExcluirEmbora eu continue achando que as mulheres se "produzem" principalmente para elas mesmas (e para nos dar a ilusão de que seja para nós), pessoalmente fico fascinado pelos detalhes tipicamente femininos como arrumar o cabelo, passar batom, andar de salto alto ou o rebolar de um corpo apertado em uma saia justíssima...
Eu fico doido só de pensar.
Já não posso dizer o mesmo da mercificação do nu nas revistas masculina (não tenho o menos tesão por isso).
Gosto de pensar na mulher como uma fortaleza que precisamos conquistar (este é o prazer) e não um castelo de portas abertas para o "inimigo" entrar.
Parabéns pelo texto!
Beijos